segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Apresentação do artilo (slides)

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A História da matemática como alicerce para um aproveitamento do ensino de matemática: usando a cerâmica marajoara para ensinar semelhança de triângulos.

Felipe Baldez Neto¹
elbandollo@hotmail.com
José dos Santos Guimarães Filho¹
Js_guima@hotmail.com
Josilene Serrão¹
Josylenny50@hotmail.com
Renato Akira Taniguchi¹
Renatoakira@uol.com.br
Renato Ivo Farias¹
Renato.conta@live.com
Ricardo Mendes¹
Ricardo1jr@hotmail.com
Walber Leal¹
Walberfifit100@hotmail.com

Resumo: O objetivo desse artigo é ensinar semelhança de triângulos usando a cerâmica marajoara como ferramenta facilitadora para o processo de ensino. O presente artigo nos mostra sucintamente como a matemática surgiu da necessidade que nossos primórdios tiveram em sobreviver; e sua evolução desde os tempos antigos até a contemporaneidade, passando por várias modificações e sistematizações para o ensino, principalmente a partir da revolução industrial. Enfatiza-se também a história da matemática como tendência pedagógica, pois Entendemos que esta passa a ser Metodologia de Ensino para aquele que ensina, a partir do momento em que este, compreende o seu próprio movimento do pensamento ao relacionar teoria e prática, ou seja, tem domínio do seu processo lógico-histórico. Neste artigo damos importância à história da matemática paraense, e fazemos a análise das idéias matemáticas geradas nessa região pelos nossos antecessores; para assim, como futuros educadores possamos mostrar para nossos alunos uma maneira diferenciada de estudo que envolva a região em que moramos.
Palavras chaves: Etnomatemática, história da matemática

História da matemática: uma breve explanação
Não podemos datar ao certo há quanto tempo existe a matemática, o que conhecemos, são provas históricas do que acreditamos ser o princípio das ideias matemáticas geradas por nossos antepassados no caso dos desenhos cuneiformes, que nos mostram diferentes formas geométricas nos dando a percepção de uma certa regularidade nestes. Posteriormente a humanidade pôde ter provas concretas das primeiras contagens, que mesmo sendo rudimentares, surgiu, possivelmente, da necessidade de estimar quantias, sejam elas de alimentos, animais ou pessoas.
Porém este desenvolvimento se deu de forma muito lenta, desde a percepção das diferenças e semelhança entre esses objetos, isto iria gerar uma quantificação de elementos de uma determinada coleção, e podemos observar isso quando pedaços de paus e ossos foram encontrados com riscos em alguns sítios arqueológicos.
Haja vista este pensamento, a história observou o desenvolvimento da idéia do número e a contribuição dada por vários povos, podemos destacar os babilônicos e suas contribuições algébricas e os gregos que muito contribuíram para o desenvolvimento da geometria, e foi a Euclides de Alexandria que atribuíram à paternidade desta.
Contudo, o nosso trabalho não será o de contar as histórias da matemática, e sim o de fazer a análise da mesma como material de suporte pedagógico visando a melhoria do ensino da matemática. Para que isso seja feito, devemos lembrar-nos da dificuldade de abstração que os alunos têm quanto às idéias matemáticas. È corriqueiro perceber a utilidade de certos conceitos quando já temos o hábito de estudar matemática, mas será que ocorre ao professor a dificuldade que o aluno sente quando se explica que a fórmula de Pitágoras diz que “A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa”? Onde fica Pitágoras? Não seria mais fácil demonstrar com base na história, como foi geado esse raciocínio?
Sendo assim, estudamos o ensino sistematizado da matemática, que surgiu na Mesopotâmia por volta de 2500 a.C. antes do mesmo advento da escrita com o surgimento dos escribas (aqueles que dominavam a escrita). Neste período, o aluno aprendia matemática praticando exercícios repetitivos e exaustivos, era raro uma analise detalhada das questões resolvidas. Os discípulos também não reconheciam padrões nas questões resolvidas, como não havia formulas, os alunos simplesmente resolviam estes problemas segundo passos, como se fosse uma receita. Este método foi usado por muito tempo, e até hoje ainda se tem relatos sistema de ensino arcaico.
As primeiras propostas de mudanças no ensino da matemática tiveram início nos últimos anos do século XIX com introdução de novos conteúdos em muitos países, sendo que neta época cada país tinha autonomia quanto à metodologia de ensino da matemática usado. Tudo isso se deu com as mudanças sócio-político-econômicas que ocorreram graças aos avanços tecnológicos e ao desenvolvimento industrial que o mundo vinha sofrendo, deslocando um grande contingente de pessoas para os centros urbanos. Este crescimento populacional acelerado fez os estados revisarem os métodos adotados para possibilitar a criação de profissionais especializados gerando a ampliação do ensino às classes trabalhadoras.
O desenvolvimento ocorrido na matemática foi rápido e transformou-a por volta de 1870 numa “estrutura enorme e complexa, dividida num grande número de campos e só conhecida por especialistas” (Miorim, 1998). Com este florescimento, ocorreram grandes fatos, dentre eles o surgimento dos encontros internacionais, cito o primeiro ocorrido em 1897 em Zurique. Estes tinham como objetivo divulgar os problemas relacionados a educação matemática e suas possíveis soluções.
Foi com o início desses movimentos que surgiram as ideias que posteriormente se tornariam o inicio da inserção das novas tendências de ensino, e dentre elas a história da matemática, com o objetivo de obter melhores resultados educacionais tornando o estudo da matemática uma tarefa menos árdua para os discentes.

A história da matemática como tendência pedagógica

A História da Matemática passa a ser Metodologia de Ensino para aquele que ensina, a partir do momento em que este, compreende o seu próprio movimento do pensamento ao relacionar teoria e prática, ou seja, tem domínio do seu processo lógico-histórico. Para o aluno esta metodologia possibilita uma certificação da fundamentação e não a praticidade contemporânea, ou seja, partindo do conhecimento utilizado e determinado contexto histórico, o estudante adquire conhecimento que possibilitem a resolução de situações problemas colocadas em sala ou até mesmo no seu dia-a-dia, e ainda reconhecendo esta como obra humana.
Com base em pesquisas feitas por diversos estudiosos do assunto que esta sendo explanado neste artigo; podemos perceber a falta de inserção de elementos regionais nesta nova tendência, sendo que, neste contexto, a historia da matemática poderá ser utilizada como um elo de ligação entre o  

Temos ainda a etnomatemática como uma subdivisão da História da matemática. Nela existe a possibilidade de uma abordagem aluno e seu passado servindo de instrumento de resgate cultural. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) fazem referencia a isto quando afirma que os conceitos abordados em conexão com sua história, constituem-se veículos de informação cultural, sociológica e antropológica de valor formativo:

[...] verificar o alto nível de abstração matemática de algumas culturas antigas, o aluno poderá compreender que o avanço tecnológico de hoje não seria possível sem a herança cultural de gerações passadas. Desse modo, será possível entender as razões que levam alguns povos a respeitar e conviver com práticas antigas de calcular, como o uso do ábaco, ao lado dos computadores de última geração (PCNs, 1998, p.43).mais voltada para o cotidiano do estudante, tendo em vista os aspectos sócio culturais deste, e, sendo esta iniciativa apoiada por autores como D’Ambrosio:“Desvincular a matemática das outras atividades humanas, é um dos maiores erros que se pratica particularmente na Educação Matemática.”(D’Ambrosio, 1999, p.97).
O uso da história da matemática é de grande valia nos casos já citados, servindo ainda de alicerce para conhecimentos desenvolvidos durante a vida acadêmica, pois além de atender as necessidades impostas pela sociedade, cria um cidadão crítico que, sendo este detentor de um espírito investigativo, é apto para o convívio na sociedade como diz Baroni e Nobre (1999): “História da matemática constitui uma área do conhecimento matemático, um campo de investigação científica.”

A história da matemática no contexto Paraense
No Pará, a história da matemática teve início por volta de 1650 no curso de Filosofia do colégio Pará fundado nas dependências de Santo Alexandre poucos anos depois da fundação da cidade com a disciplina de Elementos da Geometria como conta o professor José Maria Bassalo, porém apenas cem anos depois surge em Belém a escola de Matemática para instruir a Artilharia Real e a Engenharia Militar que ficava no Largo do Palácio. Passados mais cem anos foi fundado a Escola Normal e o Lyceu Paraense atuais Instituto de Educação do Pará e Colégio Paes de Carvalho.
Estas instituições estavam longe de ser comparadas com os modernos institutos existentes na Europa, contudo, e bom lembrar que durante aquele período o mundo estava conhecendo a revolução industrial, e as escolas paraenses foram criadas com intuito de formar os filhos de burgueses que habitavam o local. Estas instituições ainda existem e ainda estamos vivendo uma reformulação dos métodos de ensino, e dentre eles o ensino matemático.
Nosso empenho foi na investigação de indícios que nos faça analisar as idéias matemáticas geradas em nossa região para assim, como futuros professores, possamos mostrar para nossos alunos uma maneira diferenciada de estudo que envolva a região em que moramos.
Deve-se ter muito cuidado na forma como vamos abordar este assunto para não cometermos o erro de deixar subentendido que havia desenvolvimento matemático antes mesmo da colonização desta parte do território, porém isto não quer dizer que a região amazônica era totalmente desprovida de idéias matemáticas, pois existem achados arqueológicos que demonstram desenvolvimento sociocultural. Cito como exemplo a cerâmica marajoara com seus desenhos geométricos que além de lembrar a geometria euclidiana nos dá a idéia de número, já que toda curva pode ter uma representação algébricas. Estes tesouros antigos, mesmo produzidos por povos desprovidos de um sistema metodológico de ensino, apresentam proporcionalidade nas suas construções. Tais fatos também são características de outros povos de épocas diferentes espalhados por todo o globo.
                                           figura 1: Ceramica marajoara.
Podemos ainda vislumbrar na bacia amazônica superior, próximo à fronteira do Brasil com a Bolívia, mais de 200 construções geométricas espalhadas por 248 km que a floresta amazônica escondeu durante séculos, mas por intermédio de satélites foram descobertas. Estas construções das civilizações pré-colombianas que apresentam plano geométrico preciso e é conectada por estradas ortogonais retas seriam de grande utilidade como material de apoio pedagógico na sala de aula.

                                          figura 2: Área Indigena.
Cabe ao professor pesquisador a investigação de material histórico que possa ser levado para sala de aula e que sejam facilitadores do desenvolvimento cognitivo do aluno, possibilitando uma aula diferenciada e fazendo este perceber o regionalismo inserido no contexto usado pelo docente.

Análise e proposta de ensino
Tendo em vista o resultado da pesquisa de campo (questionário) feita de uma forma qualitativa, para este artigo, tem-se que a possibilidade de introduzir uma atividade com a tendência historia da matemática é muito grande, pois, no questionário fez-se a seguinte pergunta: você gostaria que seu professor ensinasse matemática utilizando a história da matemática da região? 100% dos alunos da primeira série do ensino médio disseram que sim e aproximadamente 80% dos alunos da terceira série do ensino médio também disseram que sim, logo há o interesse dos alunos em aprender matemática através de sua história principalmente se tratando da história da nossa região.
Diante dessa possibilidade perguntou-se para os alunos se eles gostam quando o livro de matemática faz alguma atividade envolvendo a história dos matemáticos.
Obtendo as respostas observou-se que mais de 70% dos alunos responderam que gostam. Vemos que há um envolvimento melhor com a matéria quando o livro aborda a história da matemática, tendo assim uma melhor compreensão.
Foi feita a seguinte pergunta: “Seu professor usa a história da matemática para que vocês compreendam a matemática?”
Obteve-se o seguinte resultado:
A turma do 1º ano, 22% dos alunos responderam que sim e 78% respondeu que não, enquanto que a turma do 3º ano, 40% dos alunos responderam que sim e 60% responderam que não.
Observando os dados encontramos um impasse dos professores em usar a história da matemática em sala de aula, pois os alunos não sabem ao certo o que seria a história da matemática como tendência, sendo alunos da mesma turma há uma divergência, quanto às perguntas que foram feitas. O que pode confirmar isso é o gráfico a seguir:
                                          figura 3

 
Vemos neste gráfico que ao ser feito a pergunta: “As histórias dos matemáticos, das fórmulas matemáticas facilitam sua compreensão quanto aos assuntos matemáticos?”, notamos que há uma parcela de alunos que não souberam responder, então concluímos que não há esclarecimento ou o esclarecimento não é adequado, por parte dos professores.
No gráfico a seguir temos o que nos incentivou para nossa proposta de ensino, pois, vemos que os professores não dão importância a tal tendência, haja visto que as análises feitas na pesquisa de campo deram a entender que os alunos apreciariam e gostariam da tendência como método de ensino, mesmo sem saber ao certo o que seria.

                                          Figura 4

 
Nota-se que os professores que usam a história da matemática não usam como tendência, como mostra o gráfico.


figura 5


Tendo em vistas tais análises, propomos uma atividade que use a historia da matemática da nossa região como tendência, usando a história e a cerâmica marajoara para ensinar semelhança de triângulos, como a figura mais frequente nos ônibus de Belém do Pará.



                                                                               Figura 6   

O objetivo desse artigo é ensinar semelhança de triângulos usando a cerâmica marajoara como ferramenta facilitadora para o processo de ensino. Levando essa proposta para sala de aula, explanaríamos um pouco da história de Tales de Mileto que seria uma peque introdução para a nossa proposta. Tendo feito isso, traríamos para o nosso contesto: a cultura marajoara. Incitando os pontos semelhantes, mostrando que os triângulos da cerâmica marajoara também têm seus ângulos internos semelhantes assim como os de Tales.

REFERÊNCIAS
BARONI, R. L. S. e NOBRE, S. A PESQUISA EM HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E SUAS RELAÇÕES COM A EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. In: BICUDO, M. A.(org.). Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo 1999: UNESP.
D’AMBROSIO, U. A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: QUESTÕES HISTORIOGRÁFICAS E POLÍTICAS E REFLEXOS NA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA. In: BICUDO, M. A. V.(org.). Pesquisa em Educação Matemática: concepções e perspectivas. São Paulo (1999): UNESP.



quinta-feira, 23 de setembro de 2010

o papel psicológico da História da Matemática no processo de ensino-aprendizagem. Por: Cristina Dalva Van Berghem Motta Mestranda FEUSP - Linha de pesquisa: Ensino de Ciências e de Matemática - End: Av. Antonio Diogo, 684 03669-040 - São Paulo - SP

A História da Matemática pode exercer um importante papel psicológico no processo de ensino-aprendizagem tanto em relação ao professor quanto em relação ao aluno. Ao estudante pode propiciar condições de perceber as diversas etapas da construção do pensamento Matemático, entender as diferentes práticas sociais que geraram as necessidades de sua produção e trabalhar as diversas linguagens e formas simbólicas que o constituem e o condicionam. Ao professor, permite problematizar a ação pedagógica no sentido de se criar uma consciência das vivências e recursos cognitivos e interpretativos necessários para uma apropriação significativa das idéias matemáticas. Assim, a História da Matemática apresenta um papel psicológico importante no processo de ensino-aprendizagem ao estimular o envolvimento e a participação ativa do estudante, ao apresentar as dificuldades superadas na busca de solução para os problemas historicamente constituídos de acordo com as diferentes necessidades de diversas sociedades e ao liberar os recursos cognitivos e afetivos do aluno para o re-criar da Matemática. O adolescente, ao tomar contato com as produções de diferentes épocas e culturas, pode ressignificá-las com base em suas próprias experiências e estabelecer uma atividade dialógica com as diferentes características da linguagem matemática (natureza teórica e sistemática, coerência interna, procedimentos lógicos e lingüísticos ligados a uma axiomática própria, entre outras), que não se manifestam no conhecimento construído espontaneamente fora da escola. Além disso, a percepção da dialética dos processos criativos desmistifica a idéia de que a Matemática é algo pronto e acabado, distante das capacidades pessoais, e colabora para diminuir os bloqueios dos alunos em relação ao aprendizado da Matemática.



Introdução:

A Matemática, sabidamente, provoca diversas emoções em alunos e professores: é motivo de paixão e de desespero, de encanto e de desilusão, de euforia e de nihilismo. As crenças, os valores, a aceitação social e outros fatores não menos importantes condicionam todo processo de ensino-aprendizagem escolar dessa disciplina e podem favorecer ou dificultar as diversas etapas percorridas pelo aluno e pelo professor durante o encaminhamento dos trabalhos.

A Educação relaciona-se com a Psicologia ao buscar como e quando ensinar e na comunidade internacional de pesquisadores em Educação Matemática encontramos uma forte pressão da perspectiva psicológica no estudo dos processos de ensino e aprendizagem da Matemática (Godino, 2003, p. 12).

Na busca por melhores opções pedagógicas de abordagem de conteúdos, grupos de pesquisa em Educação Matemática discutem as diversas maneiras de problematização de situações que tornem o ensino mais significativo para o aluno e a História da Matemática fornece uma riqueza de opções que a torna um campo de estudo e de pesquisas cada vez mais profícuo.

A História da Matemática pode exercer um importante papel psicológico no processo de ensino-aprendizagem tanto em relação ao professor quanto em relação ao aluno. Ao estudante pode propiciar condições de perceber as diversas etapas da construção do pensamento Matemático, entender as diferentes práticas sociais que geraram as necessidades de sua produção e trabalhar as diversas linguagens e formas simbólicas que o constituem e o condicionam. Ao professor, permite problematizar a ação pedagógica no sentido de se criar uma consciência das vivências e recursos cognitivos e interpretativos necessários para uma apropriação significativa das idéias matemáticas.

As diversas contribuições da História da Matemática na Educação Matemática podem ser assim resumidas: apresentar a importância das muitas formas de atividade intelectual, negar o pressuposto de uma Matemática pronta e acabada e apresentá-la com uma ciência em construção, mostrar os caminhos percorridos na criação da Matemática que temos hoje e as outras possibilidades de sua construção, apresentar o erro como uma tentativa de resolução e não como uma falha, etc.

Nesse trabalho, procuraremos qual o papel psicológico que a História da Matemática pode exercer na Educação Matemática e quais são suas implicações na prática pedagógica. Para tanto, apresentaremos a dimensão emocional em Educação Matemática, alguns aspectos da História da Matemática na Educação Matemática e as ligações que encontramos entre essas diferentes perspectivas.

A História da Matemática na Educação Matemática:

De acordo com Miguel (2004), o recurso à História como uma tentativa de dar significado ao ensino da Matemática aparece nos livros didáticos brasileiros de Matemática do final do século XIX e começo do XX, a exemplo do que já ocorria na Europa um século antes, com a publicação da obra Elements de géométrie, de Aléxis Claude Clairaut, em 1741. Era manifestado pela apresentação de métodos produzidos historicamente ou de observações sobre temas e personagens da história da matemática e sofreu forte influência positivista, ao mesmo tempo em que utilizavam uma versão do "princípio genético" para o ensino da Matemática.

O "princípio genético" tem origem em uma lei biogenética defendida por Ernst Haeckel (1834-1919), que faz a seguinte afirmação: "a ontogenia recapitula a filogenia", ou seja, o desenvolvimento do embrião humano retraça os estágios pelos quais seus ancestrais adultos haviam passado. Em pedagogia, tal princípio é ligado à idéia de que o aluno percorre em seu aprendizado as mesmas etapas historicamente percorridas para a construção de um conceito. Vários matemáticos famosos se apresentaram partidários do uso pedagógico desse princípio, como Henri Poincaré (1854-1912) e Félix Klein (1849-1925) e concebiam a Matemática como uma acumulação linear e hierárquica de conhecimentos que deveriam ser recapitulados na escola nos processos de ensino-aprendizagem.

Piaget também adotou o princípio genético em seus trabalhos e escreveu, juntamente com Rolando Garcia, o livro Psicogênese e História das Ciências (1982). Nesse livro, os autores defendem a tese de que a construção do conhecimento se dá da mesma maneira nos planos psicogenéticos e filogenéticos, através de mecanismos que denominam abstração reflexiva e generalização completiva. Com tais mecanismos de passagem, o aprendiz adaptaria o saber constituído aos seus conhecimentos prévios para construir conhecimentos novos usando os processos de assimilação, acomodação e equilibração. Assim, para aprender Matemática o sujeito teria que reconstruir as mesmas operações cognitivas que marcaram a construção histórica dos objetos matemáticos, que abstraídos de suas situações concretas se tornariam exclusivamente objetos formais. O recurso à História da Matemática se apresentava como uma opção para a busca de conflitos cognitivos que possibilitassem a passagem de uma etapa da construção do conhecimento para outra de nível superior. Sob esta perspectiva teórica, a produção cultural das idéias da Matemática é tratada de uma forma internalista e estruturada, desligada de qualquer contexto, da mesma forma que se desconsidera o condicionamento sócio-cultural no desenvolvimento cognitivo do indivíduo.

Em busca de um enfoque mais sistêmico da didática da Matemática, Brousseau parte da noção de obstáculo epistemológico criada por Bachelard e constrói a Teoria das Situações Didáticas. Nela são consideradas as relações criadas em uma situação didática entre o aluno (ou os alunos), o entorno e o professor por um problema estabelecido para a reconstrução de um conhecimento. Nesse sentido, a aprendizagem por adaptação ao meio implica em rupturas cognitivas, acomodações e mudanças nos sistemas cognitivos, no uso da linguagem e nas concepções prévias. Apesar de adotar uma perspectiva piagetiana ao admitir a construção do conhecimento pela interação entre o sujeito e o objeto, a teoria da situação didática dá importância à gestão do professor da interação entre o subsistema aluno-saber e a situação-problema apresentada, o que acrescenta uma dimensão situacional ao processo de ensino-aprendizagem. A História da Matemática, nessa perspectiva, permitiria identificar os obstáculos epistemológicos superados na construção histórica de um conceito e os transformar em situações-problemas que permitissem a reconstrução do conhecimento matemático, ou seja, seria uma fonte de busca de problemas.

Para Miguel (2004), as novas perspectivas teóricas em construção no campo de investigação História na Educação Matemática defendem uma abordagem sociocultural que considere os significados em seus contextos específicos. A maior crítica é dirigida ao princípio recapitulacionista, que provoca um reducionismo de natureza sociológica ao identificar a cultura como algo externo, fonte de estímulos para desenvolvimentos conceituais e a cognição como algo interno, mero reflexo da cultura. O recurso à História da Matemática deve ser, então, baseado em um diálogo do passado com o presente e interpretado dentro das práticas sociais em que tal passado se achava envolvido. Desse modo, se deixaria de subordinar o presente ao passado e ao mesmo tempo de se fazer uma leitura da evolução dos conceitos da maneira que se acredita que eles tenham acontecido, derrubando a visão internalista do desenvolvimento da Matemática que essa leitura pressupõe.

Concordando com as proposições de Miguel (2004), procuramos definir o papel psicológico da História da Matemática na Educação Matemática. Ao ponderarmos sobre a importância das crenças, dos valores e da emoção nos aspectos cognitivos envolvidos no ensino e na aprendizagem da Matemática, não podemos nos furtar a esse exame das práticas sociais nas quais ocorreu o desenvolvimento da Matemática que hoje conhecemos. Sob essa perspectiva, as problematizações permitidas pelo conhecimento histórico da construção do conhecimento matemático são muito amplas e podem enfocar diversos aspectos, entre os quais:

1. procurar reproduzir em sala de aula o processo de criação da Matemática, apresentando as informações fundamentais para se entender a lógica de um determinado desenvolvimento;

2. conseguir apresentar uma significação para o tópico a ser apresentado e ao mesmo tempo justificar o simbolismo necessário ao formalismo da Matemática, para motivar o aluno a prosseguir seus estudos;

3. oferecer uma visão de conjunto da Matemática, ao favorecer as ligações entre as diversas temáticas sem o rigor característico da Matemática do presente, através das aplicações práticas que ocorreram na evolução histórica da Matemática;

4. atribuir a produção cultural da sociedade não exclusivamente a quem finalmente resolveu um problema, mas ao esforço e à criatividade de conjuntos de toda comunidade;

5. apresentar a Matemática como uma ciência em construção, mostrando os equívocos ocorridos durante o seu desenvolvimento como parte da natureza da atividade Matemática;

6. resgatar a identidade cultural da sociedade, através de uma compreensão externalista da História da Matemática;

7. revelar os fundamentos da Matemática;

8. contribuir para a formação de um pensamento independente e crítico sobre a construção histórica da Matemática.

Assim, a História da Matemática apresenta um potencial pedagógico muito grande e, mais especificamente, apresenta a possibilidade de trabalharmos os afetos envolvidos no processo de ensino aprendizagem de uma maneira positiva, podendo colaborar para quebrar o ciclo de exclusão em relação à matemática escolar que encontramos hoje. . O aluno, ao tomar contato com as produções de diferentes épocas e culturas, pode ressignificá-las com base em suas próprias experiências e estabelecer uma atividade dialógica com as diferentes características da linguagem matemática (natureza teórica e sistemática, coerência interna, procedimentos lógicos e lingüísticos ligados a uma axiomática própria, entre outras), que não se manifestam no conhecimento construído na escola.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

História da Matemática

A História da Ciência e, em particular, a História da Matemática, constitui um dos capítulos mais interessantes do conhecimento. Permite compreender a origem das idéias que deram forma à nossa cultura e observar também os aspectos humanos do seu desenvolvimento: enxergar os homens que criaram essas idéias e estudar as circunstâncias em que elas se desenvolveram. Assim, esta história é um valioso instrumento para o ensino/aprendizado da própria matemática. Podemos entender porque cada conceito foi introduzido nesta ciência e porque, no fundo, ele sempre era algo natural no seu momento. Permite também estabelecer conexões com a história, a filosofia, a geografia e várias outras manifestações da cultura.

Conhecendo a história da matemática percebemos que as teorias que hoje aparecem acabadas e elegantes resultaram sempre de desafios que os matemáticos enfrentaram, que foram desenvolvidas com grande esforço e, quase sempre, numa ordem bem diferente daquela em que são apresentadas após todo o processo de descoberta.
Tendo em vista tais preceitos concluímos que a história da matemática é importante não apenas como conhecimento da mesma, mas como instrumento de ensino da geração futura.